Era domingo e a mãe esperava.
A filha esperada esperava que o marido voltasse. Cosia tapetes dos restos de tecidos. Tornara-se especialista nisso: lídar com as sobras. Os filhos entravam e saíam. Não tinham mãe, nem avó. Só uma agenda feita de coisas inúteis para dizer que a vida urge. E quando descobrissem a inutilidade de tudo, uma dor lhes percorreria as terminações nervosas da pele trazendo à memória o rosto seco da tia e suas cartas de amor, "Você não vem? Tudo bem. Fica com Deus." E chorariam em segredo a falência da família, jurando não fazer o mesmo com as suas próprias. Anos depois da morte da avó e depois da tia, a mãe olhando a tarde vazia, a filha agora cozeria comidas sem sabores à espera do marido que não viria.