Todos os dias, nas horas vagas, entre uma entrega e outra do Ifood, ele escrevia alguma coisa em seu caderno. Um poema, um miniconto, o parágrafo de um romance. De madrugada, passava as anotações para o computador. Nunca ia dormir antes de organizar os escritos do dia. A família, os amigos, os colegas de trabalho riam às escondidas daquilo que consideravam uma obsessão inútil. Não diziam, mas pensavam — “Isso não dá camisa para meninos desse tipo”. Quando espiavam no blog dele, mesmo admirados de seu talento, calavam elogios a fim de desmotivá-lo a continuar. Mas ele continuava. E o espanto foi grande, quando em uma segunda-feira, como outra qualquer, ele pediu demissão e convidou a todos para o lançamento de seu primeiro livro. O contrato com uma pequena editora lhe proporcionaria condições de viver de literatura.
Adelaide Paula
04 de Abril, 2022
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