O natal me devolve meu pai e a sua incontestável presença. Um homem negro subindo a rua de volta do trabalho carregando, como bônus de fim de ano, um fardo de alimento, um ou outro brinquedo. O natal é minha mãe e o seu manjar dos deuses. Seus louvores e orações. Um sorriso largo, sempre agradecido, cosendo vestidos de cambraia e cianinha. O natal são minhas irmãs cozinhando, se arrumando. Muitas vezes rindo, outras brigando. Depois fazendo as pazes porque família é isso mesmo, desarranjo e conserto todo dia. É a lembrança da árvore de ferro forjada na oficina no fundo do quintal. A prova de que tudo pode ser feito de modo perfeito. É a chuva caindo, enchendo os tambores, nossas piscinas naturais. É a manjedoura artesanal, construída por meu irmão, sempre habilidoso na arte dos palitos. É o dia 25, cheio de samba-canção vindo de um rádio bonito, todo envernizado. Não sabíamos o que era Europa, nem Estados Unidos e a Rede Globo era apenas a Simone cobrando: "Então é Natal e o que você fez? Um remorso doido corroendo o peito, logo exorcizado na Missa do Galo.
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Mais uma vez obrigada pela gentileza de me ler!