Adelaide Paula
A Literatura é o traje mais sofisticado que alguém pode vestir.
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Meu professor de francês
Ele me tomou pelas mãos delicadamente, enquanto dava por encerrada mais uma aula dizendo: “c’est tout pour l’instant”. Fomos caminhando em silêncio em direção à porta do pequeno estúdio, quando um movimento sutil dele me encaminhou noutra direção, aquela para onde eu olhava, todos os dias, cheia de curiosidade. O lugar de onde vinha uma luz esmaecida, num amarelo desmaiado. Não sei exatamente como, mas logo me vi em sua cama. E, antes que eu pudesse retomar o caminho de volta, seus braços me envolveram a cintura e ele me beijou com paixão. Não resisti, nem disse palavra alguma que pudesse impedir o ímpeto daquele homem garboso, que poderia ser meu neto ou, na mais otimista das hipóteses, um filho temporão.
Recusei-me a pensar nessa possibilidade com profundeza. Deixei-a apenas passar pela minha cabeça, que agora já estava nas nuvens. Meu vestido foi ao chão com um toque de seus dedos e minha lingerie ficou exposta como todo meu ser. Eu estava tremendo e temendo que seu olhar enxergasse os meus defeitos. Por outro lado, me orgulhava de ter sido um dia uma atleta e colher os benefícios disso agora. Enquanto eu devaneava, ele seguia indiferente ao meu monólogo interior e parecia concordar com as observações da maioria. Explorava o meu corpo com curiosidade e desejo, imprimindo em cada pedacinho de mim marcas de prazer. Às vezes, o pudor dava-me ímpeto de fuga, queria sumir dali e voltar para minha condição de recatada senhora da alta sociedade. Mas meu corpo tinha suas próprias exigências e se entregava às carícias de mãos hábeis, nem um pouco inocentes.
Entramos em uma dança de movimentos sincronizados, de suaves beijos e carinhos mil. Ele elogiava o meu perfume, a maciez da minha pele, a doçura da minha voz. Eu não dizia nada, porque ele era todas as minhas imaginações e lembranças. E eu sabia como era ter, para seu
deleite, um corpo tonificado e disponível. Quando chegamos ao ápice, ficamos abraçados, sem grandes gemidos ou ruídos. Ficamos aconchegados um ao outro e ele dormiu. Quanto a mim, eu jamais poderia dormir depois daquele evento na rotina maçante do meu dia. Apenas fiquei observando a energia sexual reverberar no meu corpo, como se estivesse descobrindo lugares secretos em mim, gavetas nunca antes abertas. Nunca. Cheguei a casa horas depois do costume.
Quando a porta se abriu, tive que me conter para não dar um largo sorriso para Margot, que recolheu meu casaco e minha bolsa com a sutileza e a discrição que sempre lhe foram peculiares. Atravessei o longo corredor que daria em meu quarto, que me parecia hoje extremamente
distante. Apressei o passo afim de estar a sós comigo mesma o mais brevemente possível. Logo atrás de mim, ouvia o caminhar ligeiro dela, me oferecendo alguma coisa. Nunca essa subserviência me pareceu tão irritante.
– Um suco, madame Bianot? Acabei de preparar um revigorante suco de amoras. “Nada pode ser mais revigorante do que vivi a pouco...”, respondi mentalmente enquanto minha boca dizia:
– Estou com uma enxaqueca horrenda. Por favor, quero ficar sossegada em meu quarto. Não me incomode por nada! Eu disse enquanto cerrava a porta praticamente nas fuças dela. Atirei-me na cama como não fazia desde meus vinte anos. Dei um salto leve bem no centro da maciez dos meus lençóis fios de seda. Agarrei um travesseiro e abracei-o como ainda a pouco estava abraçada ao meu professorzinho. Toquei meu corpo, explorando aqueles mesmos pontos onde há pouco estiveram os lábios dele e, mesmo horas depois, ainda senti múltiplas ondas de prazer.
Queria gritar o meu gozo para acordar a casa, a vida. Dizer que eu estava viva e funcionando de maneira plena.
@adelaidepaulaescritora
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 22/06/2020
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