SAINDO DO ARMÁRIO
Eu não sou GAY. Parece estranho fazer uma afirmação assim, do nada. Mas, com as eleições presidenciais se aproximando, fiquei com vontade de sair do armário. Estou saindo do armário da educação com a qual fiz vista grossa para o tratamento que gays recebem. Eu passei a minha vida inteira ouvindo insinuações quanto a minha sexualidade porque simplesmente me recusei ao matrimônio qualquer, ou seja, aquele que se faz pra sair da lista das encalhadas. Eu, ao contrário de muitas amigas, entrei na fila do desencalhe e fui cedendo meu lugar até chegar onde estou. Uma bonita senhora encalhada. A minha escolha pela solteirice desde os trinta anos foi acompanhada por olhares insinuantes, cochichos maldosos, risinhos debochados. Ouvi histórias de mães que proibiram suas filhas de andar comigo porque eu era meio sapata. Imagina se eu iria ser meio qualquer coisa nessa vida! Logo eu? Se é pra ser alguma coisa que seja por inteiro! De corpo e alma. E para piorar, eu sempre tive um milhão de AMIGAS. Desde pequenininha já andava com meu bonde. E sou monogâmica. Sempre tive uma amiga confidente. Aquela que tava sempre comigo. De tempos em tempos a confidente casava e eu botava outra no lugar. Porque amiga tem que tá disponível pra sair por aí sem hora pra voltar. Viajar sem rumo. Dançar até amanhecer. Andar, andar, andar. Minhas amigas me deram a vida que na minha cabeça nenhum marido daria. Mas, eu gosto de HOMEM e tive meus amores e até morei com um. Infelizmente, me faltou o ar e meu pseudo casamento sufocante asfixou-se. E, claro, caí nos braços das amigas. Revivi. Não sem ouvir os conselhos de uma mulher insinuando que eu deveria me ASSUMIR. Juro que fiquei com medo dela se declarar pra mim e se vê frustrada. Felizmente, não precisei dizer nada, mas me senti incomodada, como fiquei tantas outras vezes por achar que alguém tava achando que eu era gay. Foi quando me dei conta de que eu tava com MEDO. Tinha medo de que alguém me agredisse por achar que eu era gay. Comecei a querer parecer mega feminina, a evitar lugares onde gays fossem, a separar coisa de gay das outras coisas. Observei que gente que se diz "esclarecida" também trata pejorativamente os gays. Já ouvi coisas horríveis de pessoas ditas muito abertas. E tudo isso só aumentou a minha sensação de INSEGURANÇA. Cheguei a inventar um relacionamento sério só pra por no Facebook e garantir uns tempos de paz. Até que me caiu a ficha - É EXTREMAMENTE PERIGOSO SER GAY NO BRASIL. E não foram os números de homicídios que me mostraram isso, foi o que senti na pele durante vinte anos. O cheiro de violência rondando a minha vida. O ódio duplo - sexista e homofóbico. E no meu caso, haveria também uma boa dose de RACISMO. Então, eu resolvi sair do armário e dizer que SIM eu acredito que ser gay não é escolha, assim como ser negra também não é. E resolvi parar de opinar ou participar ou fazer parte de qualquer roda escarnecedora que motive ou prolifere MEDO e VIOLÊNCIA contra qualquer tipo de pessoa. Os crimes mais odiosos, como linchamentos, só aconteceram porque pessoas se recusaram a praticar a EMPATIA. Eu não sou GAY. Meus pais não eram HOMOFÓBICOS. O líder da minha fé, JESUS, me ensinou a não julgar. Por isso, quero manifestar acolhimento e amor. E dizer para você que só acrescenta peso extra à vida alheia: Você ainda vai fazer m... por agir assim, e quando isso acontecer eu não quero estar por perto.
P.S.:
Obs.01: A melhor cantada que recebi foi de uma mulher;
Obs.02: Bênção mesmo é ser amada/o de verdade.
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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 02/09/2018