CUIDADO COM O CALADO
Preste atenção em quem cala. Dentro de um silencioso há sempre uma fala; uma ininterrupta fala. O calado pode ser apenas tímido, inadequado por seus próprios olhos aos meios, aos lugares sociais. Introvertido. Vertido para dentro de si. Voltado para as suas questões. Autocentrado ou autocensurado. Mas, nunca alheio. Nunca. Pelo contrário, ele está extremamente conectado ao mundo externo; ele vê e julga tudo o que vê. Quem fala menos, vê mais, ouve mais. Um sentido compensa o outro. É uma lei da natureza quase natural.
Aprende a ler o não dito, o riso, os sinais, o que está por trás. Talvez, o calado seja quase um maldito, pois carrega consigo o gatilho sempre apontado. E o problema é o como o gatilho dispara. Estar sob o jugo do silêncio pode ser autopunição por uma culpa sentida, alimentada. Uterinamente alimentada. Ou uma imposição social; imposta pelo silenciamento cotidiano que os sujeitos "normais" impõem aos "diferentes". Mesmo que o diferente, de fato, seja o único normal. A sociedade silencia quem não se ajusta. Nega o justo direito ao lugar de fala. Segue - se o silenciamento. Todo silenciamento imposto é acompanhado de invisibilidade. Tem o intuito de tornar não visível o que perturba, o que aborrece. É uma espécie de extermínio. Mas, o invisível não é inexistente. Circula entre. Circula com. Circula com o gatilho apontado. É aí que mora o perigo. Quando dispara o gatilho, ele fere a si ou aos demais? Não há uma boa resposta, pois ambas são respostas de dor.
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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 04/08/2018
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