OUTSIDE
Ele a olhava pela lâmina espelhada do corredor. Via-a fazendo seguidas anotações em sua agenda. Às vezes, balançava o pé meio suspenso porque sentava de lado, daquele jeito que o quadril fica mais volumoso. Que deliciosa ela era - Pensava. Não só pensava como sentia por todo corpo um tesão quase insustentável. E agora, distraidamente, ela acariciava aquela curva perfeita. Ela era ansiosa, ele sabia. Ele via o jeito que ela mordia o lábio ou como seus olhos marejavam quando ela ficava nervosa. E ele podia aterrorizá-la e fazê-la chorar até. Bastava lhe colocar contra a parede num debate qualquer, pegando um ponto difuso, algo que a sensibilzasse, como as causas étnicas ou de gênero. Poderia masoquistamente gozar o prazer de vê- la insegura na sua frente, balançando os pezinhos, esfregando as mãos e mordendo os lábios. Mas, simplesmente ele não podia. Por quê? Porque não sustentaria nem por um segundo os seus olhos nos dela. E, sem dúvida, ela era daquele tipo que encara. E pior, ela não só encarava, como fazia caras e bocas também. E umas bocas tão lindas, que dava vontafe de beijar. E por isso, ele se resignava a espreitar pelo vidro, protegido de sua musa. Ele, um moleque, com certeza não sobreviveria. Para ele, ela era quase uma Clarice Lispector, com um agravante: estava a seu alcance. Seu maior temor era que ela descobrisse o quão idiota ele era e com isso aquele desejo que tinha de possui-la se esvaisse de noite, na cama.
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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 05/06/2018
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