NA JANELA COM J.K. ROWLING
A janela de fora a fora criava uma amplitude libertadora. Era um andar baixo, mas tinha um privilégio que poucos percebiam ou valorizavam, pois muitos buscam ver ao longe os arranha-céus, os monumentos da metrópole. Ela não. O privilégio era aquela pequena floresta que se formara bem em frente ao apartamento. Uma sobra de terreno do Estado que não dava para fazer nada em especial, onde permaneceram, à revelia da especulação imobiliária, talvez uma dúzia de árvores e algumas plantas exóticas, dessas que nascem a esmo feito erva daninha. Teria, agora, o seu bosque particular. Imaginou- se tomando le petit déjèuner no jardinzinho japonês que faria surgir naquela sobra de laje - a propósito- outro privilégio disfarçado de problema, enquanto observaria o vai e vem dos passarinhos pela manhã e no final da tarde. Quem sabe colocasse uma tela de aço e criasse ali uns dois gatos tigrados. Num canto, um vaso suntuoso e nele a sua árvore oriental. Cobriria o chão de concreto com pedras, entremeando um paisagismo de variadas plantas e entre elas, muita lavanda. Teria a sua parede verde de onde sairia uma cascata. Talvez, até tomasse uma ducha nos dias mais quentes. De mobiliário, uma cadeira confortável feito um abraço, que coubesse dois de uma só vez e uma mesinha para apoiar uma xícara ou uma taça, dependendo da ocasião. O charme ficaria por conta da pseudo-lareira fumegando incessantemente. Objetos e penduricalhos de jardim para terminar. A varanda seria o seu escritório-atelier-gourmet, onde sua olivetti lettera 82 verde estaria em destaque. Escreveria seu best-seller aos pouquinhos, deixando os originais sob o exemplar de Les Misérables, de Victor Hugo. Seria uma J.K. Rowling tardia olhando de sua humilde janela um mundo fantástico.
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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 23/05/2018
Alterado em 23/05/2018
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