O JOGO
Seguia sendo platônico. Gostava de ver, observar, ouvir até, desde que fosse apenas uma presença incógnita. Esse jeito de amar sem amar veio de um somatório de frustrações ao longo de seus quarenta anos. Nutria seus sentidos e, intimamente, nutria o ego também. O artifício de não se apaixonar era um trunfo egoísta que desafiava a tendência da humanidade para o amor. Certo dia, deu com uma foto dela diante de seus olhos. E pondo os olhos nela, viu um não-sei-o-quê de encanto e sedução muito diferente daquilo que conhecia. Ela não era tão bonita, mas feia também não era. Tinha delicadeza no olhar e um sorriso tímido. Lançando mão dos mais modernos recursos tecnológicos, passou a investigá-la. Das várias descobertas, descobriu que a moça era avessa a romance. Celibatária convicta e declarada. A notícia aguçou seu instinto predador, um lado até então desconhecido. Mudou-se para o edifício dela, tornou-se um seu vizinho e iniciou um cerco de continua e discreta observação. Mal sabia ele que também era observado. Ela era uma viúva negra, serial killer de amores vividos que assassinava suas vítimas logo após a primeira noite de amor. Certa de que ele seria o próximo, esperava apenas o cortejo começar. A única chance dele escapar era manter-se fiel às regras que ele próprio inventou .
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 03/05/2018
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