Adelaide Paula
A Literatura é o traje mais sofisticado que alguém pode vestir.
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SEU PEDRO, MEU PAI.
Seu Pedro antes das seis estava de pé, ajeitando as coisas para sair. Fazia a barba no espelho do corredor, usando um aparelho antigo de barbear, aquele que se abria para colocar a lâmina. Muitas vezes, eu mexi no aparelho sem ele saber. Peguei na lâmina também, aliás, como toda criança da década de 80, brincando com o risco de morte. Ainda lembro do som do corte da barba. Lembro dele lavando o barbeador, dando batidinhas na pia do banheiro.
Antes de sair para o trabalho, ele deixava o café pronto. Café coado, forte e intenso. O rádio ligado dava as notícias, entremeando os singles e publicidade. Mário Eugénio apresentava o Gogó das Sete e o jornalismo policial embalava as manhãs sonolentas. Sendo chuva ou sol ele saía para trabalhar e só voltava às sete da noite. Comia da marmita que minha mãe preparava e o motorista "Tomate" buscava às dez da manhã. Geralmente, vinha muito cansado. No DER - Departamento de Estradas de Rodagem, ele era soldador. À noite, tomava banho, assistia o JN e, quase sempre, ia dormir depois da novela. Nos fins de semana, completava a renda forjando o ferro em corações que se transformavam em portas e janelas. Eu me perguntava como um homem tão simples, quase sem estudo, conseguia fazer cálculos matemáticos tão precisos para traçar ângulos e vértices. Esse é o trabalhador que os meus olhos esperam reencontrar.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 02/05/2018
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