ESTRATÉGIA MATEMÁTICA
Ela terminou a equação diante da plateia masculina devidamente boquiaberta. Podia sentir o cheiro de desejo no ar. Seus alunos da Engenharia mais que a admiravam, desejavam-na. Ela sabia que era ótima com números, mas deslizava na interpretação feita de palavras. Naqueles dias, voltava para casa de metrô. Não que precisasse, era uma estratégia matemática para resolver as coisas do coração. Quem sabe aumentar o número de pretendentes, quem sabe encontrar um homem comum alheio a competitividade acadêmica. Aninhou - se em seu casaco e ficou olhando em volta enquanto esperava a estação de Burnaby.
Foi quando ele entrou no vagão. Jovem, em torno de trinta e poucos anos. De bom tamanho e peso. Barba despojada, mas feita. Aparência agradável; a beleza excessiva a entediava. De repente, ele começou a discursar em alto e bom idioma sobre o desejo de encontrar uma mulher para dividir a vida. Não buscava um grande amor, apenas uma companheira de sonhos e projetos. Como um convite à moda antiga, instigava as mulheres do vagão a acompanhá- lo na aventura de um encontro amoroso inusitado. Pelos risos, suas palavras encontraram eco nos corações femininos. De olhos semicerrados e ouvidos bem abertos, ela assentia sem nada dizer. Por que não? Ambos tinham dificuldades afetivas e estratégias para solucioná - las. Sentiu uma leve excitação.
O rapaz encerrou sua fala, pedindo que as interessadas descessem discretamente na estação seguinte para entabular uma conversa. Assim que as portas se abriram, ela avançou rapidamente para a saída, não sem antes tocar no braço dele para informar o seu aceite. Seu corpo já estava fora das portas quando o ouviu dizer, olhando em seus olhos: " Moça, desculpe- me, mas isso é o trecho de uma peça..." Rapidamente, as portas se fecharam e o trem seguiu seu caminho, levando com ele seu futuro marido.
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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 29/04/2018
Alterado em 29/04/2018
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