ABAPORU, 22 DE ABRIL DO CORRENTE ANO.
Clarice,
Veja só, cá estou a lhe escrever uma carta. Minha primeira carta. Você me convenceu do poder curativo da escrita e, resolvi dar início a nossa terapia missívica. Sinto-me bem melhor após a intervenção medicamentosa e as sessões de terapia. Já consigo pensar sobre a depressão mais que senti-la. O choro não me acomete em torrentes e não sou mais um rio caudaloso, quiçá agora apenas um córrego soluçante. Ainda me lembro como o mundo exterior me abalava. Principalmente, os assuntos femininos. Foi uma época em que tudo parecia faltar: o amor, a maternidade, o sucesso e a amizade. Eu era um anexo do mundo a minha volta. Eu não me bastava. Lembro-me da falta de sonoridade de outras mulheres, minhas iguais, que mesmo vendo o meu padecer, provocavam a minha dor com perguntas indiscretas: "Ainda não casou?" " Nem um filho tem? " Como se o ser mulher se resumisse a procriar. É, confesso, quase acreditei nessa falácia.
Mas, esse tempo passou e agora percebo que você tinha razão, a terapia combinada com antidepressivos me deu um novo alicerce.
Espero que tenha gostado de nossa primeira sessão. Na próxima, quero falar um pouco sobre o poder da arte nesse processo.
Um abraço fraterno,
Tarsila
P.S.: Aguardo seu feedback.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 22/04/2018
Alterado em 22/04/2018
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