OVO OU OMELETE, EIS A QUESTÃO.
Com todo o jeito, ele pegou da seringa para executar aquilo que parecia impossível. Ele que sempre foi o modelo, o exemplo, queria agora algo que estava fora de alcance. Mas, não era só um quererzinho qualquer não. Era a excitação da vida voltando a todo vapor. Uma vontade incontida de sorrir, de sentir- se belo, da beleza mais preciosa do mundo, aquela que vem de dentro. Tudo isso esbarrava nas convenções e naquilo que desde sempre aprendeu ser a verdade. Esbarrava também no problema que ele mesmo criou quando resolveu agradar todos, a carregar o mundo nas costas e tomar para si as obrigações alheias. Sim, ele era o provedor. Foi assim porque assim ele resolveu a insegurança e o medo de não ser amado. Amado por ser só quem era; simples assim. E o que nunca teve, estava acontecendo agora: ele era AMADO. Sem mais delongas. Mas, o que fazer com as convenções? E a felicidade alheia que se abrigou a prover? Bem... Lá estava ele com a seringa fazendo um minúsculo furo na casca do ovo. Logo, seus olhos brilharam quando viu o invólucro cheio de clara e gema e em suas mãos a casca fina, leve, quase intacta. Olhando o imperceptível furo na casca, seus olhos tornaram a nublar-se. O que era o ovo sem seu conteúdo? Foi quando se convenceu da impossibilidade de se fazer uma omelete sem quebrar os ovos.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 10/04/2018
Alterado em 10/04/2018
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