Eu não sou sua preta de estimação, aquela que você mantem por perto para justificar sua discriminação. Não. Eu não estou na sua cota de cor para você negar seu racismo afirmando com todo orgulho: “Racista, eu? Nem sou. Tenho até uma amiga de cor!” Não, não conte comigo porque não sou como aquelas pretas que não conhecem a verdade e vivem a mendigar a sua amizade. Não. Nasci livre, cresci liberta. Sou dona do meu querer desde menina e gente como você eu reconheço sem ver. Eu não sou a sua preta educada, aquela que se faz pano de fundo enquanto você dá risada. Não tente me colocar do seu lado porque o seu senso de humor não me agrada, é salgado. O seu riso é cínico. O riso que propõe rir de tudo, mas só ri do que é do outro: “...Você ri do meu cabelo, você ri da minha pele, você ri do meu sorriso...” Mas, quando ameaçam lhe meter na cadeia, você diz que foi tudo brincadeira. Esqueça, comigo não. Não lhe darei mote para piada, não perdoarei a palavra enviesada, a mim você não vai enganar.  Você que ficou pela estrada, que de história não entende nada. É retrógrada, antiga e ultrapassada. Que fala da boca para fora, usa enfeites e termos do candomblé, come comida africana e dança até afoxé. Tudo lhe serve de álibi para dizer o que quer. Com ódio no coração, tem sempre uma piada suja, um gesto amargo, um senão para prejudicar um irmão. Esqueça! Do meu lado você não anda, não. Não conte comigo, pois se ouço seu estribilho, denuncio! Faço você aprender por A mais B o que é Racismo, Discriminação. Lembre-se: Eu não sou sua preta. Aquela coitada, idiotizada pela televisão. Não sou alienada, pelo contrário, sou culta e bem formada. Com o nariz ao vento e os pés no chão. Corre em minhas veias o sangue de um povo guerreiro, de uma altiva nação. E, se grilhões eu rompi para chegar até aqui, de geração em geração... Nunca duvide de mim, não duvide não. Não duvide de mim, nem da força da minha mão. Eu descendo da rainha Nzinja, dos Quilombos de Palmares. Veja o meu rosto, sinta os meus ares. Sinta a altivez que o meu ser irradia. Afaste-se de mim, não queira minha companhia.

Adelaide de Paula Santos em 24/04/2017, às 00:00.

P.S.: Minha singela homenagem à Serena Williams que mesmo grávida de 20 semanas, venceu o Australia Open. E, foi mais uma vez, vítima do Racismo, mas como uma guerreira pós-moderna, respondeu de uma forma inspiradora. Ela não é a negra de ninguém, ela é simplesmente THE BEST.