BRASILIA
Brasília. Metade brasa, metade ilha. Brasília. Na sua metade brasa, esplendor. Um mar aberto em pleno céu. Um chão deserto, cinza cimentado. Um jardim aqui e ali. Uma nave pousada no gramado à espera do último passageiro. Corre, ligeiro! É daqui que partem as naves que embarcam para outros ares. Todos amam Brasília, até a quinta. Mas, já na sexta- feira, partirão. Brasília é só solidão. Ruas desertas, avenidas desertas, superquadras desertas. Agora ela é ilha. Muitas vezes ilha. A prosperidade mora lá, só naquele trechinho. Na silhueta do avião. Brasília rima com partir. Com seguir para longe dali. Cortá-la de uma asa a outra e despencar fora dela, numa outra cidade. Numa cidade satélite. Brasília. Ilha. Sonho. Projeto. Desenho. Invento. Lutando para conter o crescimento. Engarrafamento. Os passantes que aqui passam para lhe golpear. Em cada maleta um tasco de ti, Brasília. Engarrafamento de aeronaves de corrupção. Voluptuosa até quinta. Bordel de quinta. Um entra e sai de engravatados, todos salafrários. Dilapidando a nação, pedaço por pedaço. Sua beleza escondida no meio da corrupção. Já na sexta, começa a renascer. Tímida e faceira. Nos parques, nos bosques, beira lago, beira cachoeiras, renasce. Límpida e adorável. Quem lhe vivifica vive por ali, longe de ti. Em seu derredor. Nas outras tantas cidades que lhe cercam, que em cada fim de semana lhe devolvem o fôlego, de novo.
Adelaide de Paula Santos em 21/04/2017, às 23:29.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 21/04/2017
Alterado em 21/04/2017
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