A MENINA ESPECIAL EM UM MUNDO BOSSAL
Ela veio ao mundo muito especial. Um jeito meigo demais, manso demais, doce demais. E eis que o mundo não estava preparado para recebê-la porque o mundo era agressivo demais, hostil demais, amargo demais. Mas, mesmo assim, ela estava nele e nele deveria seguir, até o fim. E ela seguiu, meio sem entender as coisas do mundo suas importâncias e as desimportâncias. E isso até que era bom, pois não entender certas coisas dói menos que entender tudo tim, tim por tim tim. Não entender, por exemplo, que o mundo imperfeito busca perfeição em tudo. Mede milímetro por milímetro o tamanho de cada um, pesa, quantifica e rotula. “Este serve aquele não”, portanto, aquele deve ser serviçal deste. O mundo é assim. Somos o restolho da poeira cósmica que um asteroide espalha na atmosfera. Absolutamente frágeis e falíveis. Suscetíveis a microscópicos inimigos ocultos. Mas, não ocultamos a nossa arrogância ao apontar o defeito alheio. Econômicos na distribuição de nossa misericórdia e simpatia, mas perdulários na busca por quem nos acolha e nos perdoe. A menina diferente não é igual a ninguém, nem nunca o será. A menina lenta, um tanto quanto distraída, um tanto quanto retraída. A menina que nasceu risonha, despreocupada, meio desligada, muito apaixonada. A menina positiva, quase sempre de bem com a vida. A menina segue em frente. E, vez ou outra, aqui e ali, surgem anjos sem asas e levam a menina pela mão. Sempre em frente. Ela vai driblando o erro de Deus. Mas, Deus erra? Ela vai driblando a ignorância dos homens ao pensar que Deus errou quando a trouxe para terra. Logo ela, o sinal vivo de Deus que nos mostra que é possível ser feliz sendo o que se é. Quando nos mostra que a humanidade, ainda que perversa, tem jeito, pois sempre há alguém que estenda a mão ao necessitado, alguém que seja capaz de olhar para o lado e achar que ser diferente não é anormal. Alguém que a despeito de tudo ainda se sente completado pelo excluído, pelo abandonado.
Adelaide de Paula Santos em 09/03/2017, às 23:25.
Ao falar em INCLUSÃO, não exclua a COMPAIXÃO.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 09/03/2017