Adelaide Paula
A Literatura é o traje mais sofisticado que alguém pode vestir.
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UM SONHO DE CASA
Saí da minha prova com uma sensação de dever cumprido. Fiz a minha parte e o meu professor a dele. É interessante como tudo serve ao conhecimento. Durante a tarde estava assistindo a um programa sobre casas. Reformas, trocas e construções. E qual foi o tema do meu teste oral? Casa. Casa é um tema que me fascina, tenho a minha, mas vivo sonhando com outras; de todos os tipos – pequenas e grandes; casas de praia e de campo; de um ou dois pavimentos. Amo casas. Ajardinadas, com muitas plantas, árvores frutíferas, espaços externos bem gostosos de ficar, de matar o tempo. Balanços com banquinho de tábua, ou aqueles de pneu. Redes bem enfeitadas. Cantinhos disso e daquilo. Objetos de arte espalhados como numa exposição ao ar livre. Uma fonte decorativa, uns peixinhos coloridos. Como sou mais que ousada, vou querer carpas. Eu sonho com uma casa grande, bem aos padrões internacionais. Essa casa já está edificada em algum lugar que ainda não sei onde fica. Uma casa enredada de plantas trepadeiras, daquelas que cobrem a construção e ficam só as janelinhas emolduradas por galhos, folhas e flores. Uma casa constantemente visitada por pássaros e outros bichinhos. Fresca e acolhedora. Com uma lareira bem linda, feita de pedras com as fotos da família em cima. Um telhado de telhas antigas e queimadas e, claro, uma chaminé. Eu sempre quis ter chaminé e ver de longe a fumacinha se desmanchando no céu como eu desenhava quando criança eu era. Uma casa iluminada. Lambida pelo sol, de cortinas esvoaçantes, pulando fora dos limites da janela. Não pode faltar aquele caminho de pedra no chão, aquele que vai até a porta. Uma decoração meio country, meio romântica, meio vintage, com muitas texturas, bordados tipo Frida, cores esmaecidas, luz de vela e aromas. E, no canto, um piano de cauda que toque sozinho seu som pelo ar. Uma casa deliciosa e perfumada. Perfume de flores naturais, jasmim, lírio e rosa. Cheiro de chás e anis. Canela, vanila, chocolate, pó de café recém-torrado. Bolo de frutas, pão de mel, pudim e geleias. Cheiro de lenha queimando no fogão e sobre a chama um caldeirão cozendo um guisado. Nessas horas eu percebo que não sirvo para ser ovolactovegetariana. Pelo contrário, gosto é de carne de caça sendo preparada em fogo alto. A mão do homem preparando, eu do lado só olhando. Saboreando um Bourbon ou quem sabe um chardonnay, meio de pilequinho, meio que namorando; naquele chamego de cozinha que termina na cama. Minha casa vai ter bicho, vários. Primeiro quero um cabritinho com sininho pendurado, daqueles pequenininhos que fazem um cocô miúdo e pretinho que eu acho lindo. Depois quero um ganso para eu colocar um laço encarnado no pescoço. Ganso preto e cabrito branco. Algumas galinhas de estimação; essas eu não mato não. Galinhas d’angola, bem pintadinhas com seus pintinhos bem pintadinhos. Quero um cachorro bem grande e bonachão. Aquele que fica deitado na varanda olhando para a rua. Um papagaio bem falante e mansinho, que aceite cafuné. Uma iguana grandona no lugar do dragão. Já que dragão não existe, mas eu sempre quis ter pelo menos um. Aí sim, eu seria muito feliz, seria como Daenerys Targaryen no meu reino. Mas, tudo bem, eu me contento com minha iguaninha gorducha e tenho certeza que vou adorar dar pedacinhos de carne na bocarra dela. Queria também uma cobra. Ah! Meu sonho era ter uma cobra. Melhor, uma jiboia amarela que eu chamaria de Bela. Uma cadeira de balanço, em que me balanço, fazendo tricô. E, quando desperto em meio ao jardim, eu vejo a verdade pulsando sem fim: essa casa já existe e está dentro de mim.                        

Adelaide de Paula Santos em 06/03/2017, às 21:56.


Me and my husband in Jackson Ville forever.  
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 06/03/2017
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