SESSÃO DE TERAPIA
Os imóveis de hoje são bem diferentes daqueles da época de nossos pais, sobretudo, os imóveis coletivos. Hoje existe o imóvel-conceito, ou seja, um imóvel pensado para uma realidade diferenciada. Alguns são verdadeiros clubes oferecem uma diversidade de lazeres, espaços verdes e muita distração. Acolhem famílias inteiras e dão destaque às crianças. O playground é o centro das atenções. Mas, se os adolescentes são a tônica, é possível encontrar imóveis que propiciem momentos agradáveis com os amigos no cinema ou na sala de jogos. Existem imóveis para os singles por opção, ou não. Esses possuem estrutura bem compacta, mas acolhedora. É provável que não haja espaço para uma máquina de lavar ultramoderna, mas certamente, haverá uma lavanderia fora de série. Você pode até estranhar a princípio – enfiar suas roupas dentro da máquina em que alguém lavou os panos do cachorro – mas, se esse é o aspecto ruim, imagine como será gratificante poder conversar com alguém enquanto espera pela secagem das roupas. De repente, quem sabe, não é esse o lugar do encontro de sua vida. Não. Nunca compre ou alugue um imóvel pensando no encontro de sua vida. Você pode até pensar em seu bichinho de estimação e aí, uma varandinha é interessante. Pode pensar em um bebê. Quem sabe? Uma produção independente, uma adoção tardia; mas, faça-se um favor, não adquira um imóvel temporário ou definitivo, principalmente essa segunda opção, pensando em romance. Aliás, chega! Não faça mais do romance a motivação para fazer as coisas ou para deixar de fazer. Viva por você; leve-se adiante por você; melhore-se por você; viaje por você. Dê sequência ao enredo que você interpreta desde que nasceu. E já faz muito tempo, não é? Para! Segura essa lágrima aí um pouco. Eu sei que toda vez que você pensa em você e nas lutas que enfrentou para chegar até aqui, você chora. Como também chora quando se lembra de seus pais, de seus irmãos, de toda a sua família. Se lhe arrefece a alma, confesso que eu também choro. Mas, segura aí essa lágrima, engole o choro por alguns instantes, respire fundo e vamos problematizar tudo isso. Se você olhar para trás verá uma linda história de vida, só sua. Tudo bem que você queria um monte de gente nela, só para fazer aquelas fotos imensas em que sobra gente e falta zoom; mas vamos trabalhar com o que temos, certo? E o que temos é uma pessoa linda que fez tudo com muito amor, até quando errou. Rimei! Você fez tudo certo, por isso não se culpe pelo que não saiu como o planejado. Não se culpe se alguém não pegou em sua mão e seguiu junto. Não se acuse se alguém largou o seu ombro e saiu de fininho. Não se constranja se o passo recuou e, agora, foi você quem voltou atrás. Recuar também é seguir, sabia? Como assim, sua louca!? Sim!!! Quando não temos convicção de que uma determinada escolha nos fará feliz, o melhor a fazer é recuar; parar e até voltar atrás. “Ah, mas as pessoas dizem que SE eu tivesse...” Ouça bem o que vou dizer agora: _ As pessoas não sabem de nada _ Elas também estão perdidas, “segurando no carão” uma vida tão complexa quanto a sua. “Mas, eles parecem tão completos, tão felizes” Sim. Mas, você já ouviu aquela frase clichê: a grama do vizinho é sempre mais bonita. Pois é, você não imagina o desespero daquela mãe que não sabe o que fazer com a imperatividade do filho, ou do casamento de fachada daquele casal; ou da passividade-agressiva naquela família. Enfim, vamos parar de olhar a vida alheia e focar aqui. Olhe-se nesse espelho e se veja. Você é o seu grande amor! Será que eu preciso gritar! Ah, e sabe aquele papo de SE? Esquece. Elimine de sua vida duas palavrinhas e você será feliz. Uma é o SE, a outra é QUANDO. A primeira remete ao passado e nós não podemos mudar o passado. Ou seja, ficar imaginando o que seria se você tivesse agindo assim ou assado só produzirá sofrimento. Sempre que se sentir atraído por esse pensamento, afirme em voz alta: TUDO FOI COMO TINHA DE SER E EU FIZ O MEU MELHOR NAQUELA CIRCUNSTÂNCIA! Isso! Sorria! Libere endorfina! Deixe o seu corpo curar você. Agora o QUANDO é limitante. Se você usá-lo, condicionará a sua felicidade sempre a alguma coisa e, geralmente, essa coisa nunca está conosco. Ou seja, haverá sofrimento. Use frases do tipo: EU USO E APROVEITO BEM O QUE TENHO HOJE E POR ISSO SINTO-ME SATISFEITA. Ótimo! Toma aqui esse lenço, limpa esse nariz remelento. Isso! Sorria! Deixe o seu corpo curar você, libere endorfina! Eu pareço uma louca, né? Você me pediu uma opinião sobre apartamento e eu aqui bancando a terapeuta. Risos largos. Risadas cúmplices. Eu confesso que gostei do menorzinho, aquele com uma varandinha gourmet. Já imagino a gente lá, preparando qualquer coisa e bebendo um vinho. Risos aconchegantes. Agora sim! Gosto de ver você assim, cheia de vontade de fazer as coisas acontecerem. Vem aqui, me dá um abraço! Ah!! E sabe aquele cara, perdoa! As pessoas erram porque tem medo; medo do que os outros vão dizer; medo das responsabilidades; medo de não conseguir; medo de não ser suficientemente bom para uma pessoa incrível como você; medo de si mesmo e de todos os esqueletos guardados lá no fundo do armário da alma. Perdoa e libera. Isso. Respira fundo e pense que o oxigênio levou o mal para bem longe. Vamos embora? Isso aqui não é uma sessão de terapia, mas o meu tempo acabou.
Adelaide de Paula Santos
Au Revoir, Janvier. 31/01/2017
Essa prosa de ficção nasceu durante a busca da minha nova casa. Eu morrendo de pressa, super objetiva e a minha corretora, um anjo de candura, me dando insigths de graça...verdadeira terapia.
A ficção está no vai e vem dos mundanos, já dizia Cora Coralina.
P.S: Bem antes de você morrer eu já havia lhe perdoado.
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 01/02/2017
Alterado em 01/02/2017