Adelaide Paula
A Literatura é o traje mais sofisticado que alguém pode vestir.
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Quando eu morrer...
Quando eu morrer não quero aqueles lamentos já outrora conhecidos que alegam as virtudes do defunto. Aquelas doces palavras que reclamam do tempo tão breve daquela tão bela existência. Não quero os choros sentidos, ou fingidos, os intermináveis queixumes, cheios de porquês. “Era tão moça, tão boa, tão alegre, tão risonha, trabalhadeira, bem faceira, religiosa, pouco queixosa.” Esqueçam-se de velar meu corpo, não quero passar por mais essa exposição; já me bastam os trinta anos diante da lousa, a explicar, replicar e reprimir. Sendo vista por olhinhos curiosos, por todos os ângulos, os mais indiscretos, insuspeitos, libidinosos, angelicais, faceiros ou maldosos. Não. Quero ser esquecida, aquecida por uma lavareda bem vermelha, lambida pela chama quente, num dia de névoa seca e pálida. Quero virar cinzas e não deixar nada que represente o que fui. Coisa rápida e objetiva. Alguém pega o corpo, leva ao crematório, entrega o recibo, posto que pago certamente estará. E, entre o acionamento das máquinas e o fim da cremação; dá umas voltas, vai almoçar, ver vitrines, pagar umas contas, ajustar uma roupa, trocar a sola do sapato. Mas, se por um momento, lhe passar um lampejo de culpa, um pensamento pousar em sua consciência, do tipo “Meu Deus, isso não é Cristão!” “Ela não gostaria”; desfaça-se imediatamente dessa tolice e dê andamento à rotina. Eu gostaria muitíssimo que fosse assim. O dia do meu fim como um dia comum. Aliás, quero me desapegar desse cárcere, desapegar desse corpo bem antes de partir; ir abandonando as vaidades, os pequenos detalhes que os anos vão colocando aqui e ali na gente. Andar por andar, correr por correr, deixar que a extensão do meu ser físico desobedeça prazerosamente os limites da etiqueta da minha roupa. Permitir que o primevo ocupe o seu lugar. Que tudo volte a ser o que era quando tinha sido muito bom como era. É certo que seria demasiado exigente pedir “Alegre-se, meu povo, eu morri!”. Não. Haverá tristeza eu sei, e sei porque sei que por onde passei, deixei amor. Mas, não foi um amorzinho qualquer não; foi amor genuíno, daqueles que não se compra, nem se vende. _ Minha autoestima está alta e eu adoro escrever essa frase, principalmente, porque muita gente acha que está errada, mas não está._ Mas, depois de passadas as datas oficiais, rezadas as missas e distribuídos os salamaleques, desejo que todos voltem à vida, até porque, ironia do destino, o próximo pode ser você. Ria-se agora. E, ria-se ao lembrar-se de mim, ria-se de algo engraçado que disse, ria-se das minhas caretas e imitações. Deixe-se levar por uma lembrança boa qualquer; o brilho eterno de uma mente sem lembranças será o meu brilho, pois em mim não haverá lembranças, nem saudades, nem remorsos, nem dor, paixão ou compaixão. Eu serei apenas o que ficou em você.
Adelaide Paula
20/07/2015 - 3º dia de férias!!!                  
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 20/07/2015
Alterado em 20/07/2015
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