Cabeça de cachorro, corpo de pássaro e rabo de filhote de rato...
O que é, o que é... cabeça de cachorro, corpo de pássaro, rabo de filhote de rato? Argh! Acertou quem disse morcego. E não é que hoje eu me deparei com um na minha área de serviço?
Bem, naqueles 03 segundos em que processei o que era aquilo se misturando às minhas coisas, cheguei a conclusão que, definitivamente, nossa convivência seria impossível, como seria impossível também recolher o bichinho e soltá-lo na natureza. Não, por mais que eu seja ecologicamente correta, não passou pela minha cabeça a possibilidade de pegar naquele ser revolvendo-se todo, encarando-me com aquele olhar de vampiro (imagino eu) e aquela bocarra cheia de dentes pontiagudos e libertá-lo da prisão do meu lar.
Pelo contrário, depois de soltar uns gritinhos abafados (é, eu sei que é contraditório a conjugação grito/abafado, mas é exatamente assim que mulher grita quando não quer gritar) eu peguei a minha fiel escudeira, a vassoura, e dei-lhe umas pancadas. Ele sumiu da minha vista e logo fiquei pensando... “agora “f”, se ele não morrer, vai chamar a (como é mesmo o coletivo de morcego?) para se vingar de mim”. Desde pequena, eu acho que os insetos e bichinhos em geral, voltam para se vingar, se conseguirem sobreviver. Por isso, comigo é mata-mata, não dou trégua não.
E lá fui eu atrás da coisa. Respirei fundo e repeti aquela minha frase: “Você vai se sair bem dessa!” Meio sem fé, e me questionando, segui em frente. “Que raios um morcego veio fazer justamente no meu lar doce lar?” Logo agora que eu pintei as casinhas de passarinho e coloquei tudo no lugar, será que ele achou-as adequadas para sua estirpe? Não, definitivamente, não. Esse é o meu habitat. Se eu estivesse no mato ou perto do mato, aí tudo bem, eles podiam até dar uns rasantes pela sala, mas gente, eu moro entre o Prá Você e o Top Mall! Ele tinha que saber que esse é um perímetro urbano.
Bem, entre avanços e recuos, eu pensei em chamar o síndico, reclamar do lixo e dizer: “todo o desmazelo desses moradores atrai bichos como esse morcego bem aqui, oh! Pode recolher! É sua obrigação! Você é o sín-di-co!” Mas, eu me achei tão ridícula. E se ele tivesse medo de morcego também? Meu Deus! Quem eu vou chamar?! Os bombeiros?! Até podia ser, quando eles chegassem, eu apontaria: “é lá, oh! Naquele cantinho, um fogo enoooorme!” E quando eles vissem o morcego, diriam: “Tem um bichinho aqui, um morceguinho” E levariam o bichinho. Mas, apesar de ser uma boa ideia, não dava para deslocar o batalhão só para recolher essa criatura desavisada.
Arrastei o cesto de roupa e vi-o caído lá no chão. Olhei de relance, não sei por que, não queria que ele me visse, sei lá, e se ele me reconhecesse? Pareceu-me morto. Será? Não estaria fingindo só para me atacar assim que eu me aproximasse? Nos filmes de terror é sempre assim, o mocinho pensa que o bandido morreu, quando ele chega bem pertinho, o cara renasce das cinzas e ataca o mocinho. Pensando nisso, peguei a vassoura e dei-lhe mais umas vassouradas. Eu já estava suando e nem tinha saído para malhar. Olhei de novo para ele, uma parede nos separando, remexi com a vassoura, verifiquei que ele estava inerte. Peguei um papel para recolher o cadáver, mas não queria aproximar minha mão do corpo, varri-o para a pá de lixo. Despejei-o no sanitário. Respirei fundo. Tudo parecia estar acabado. Parecia.
Pouco tempo depois eu comecei a “pirar” só de imaginar que ele podia subir o sanitário de volta e me pegar distraída e, sabe né? Daí não parei de imaginar coisas horríveis como ver minha barriga crescendo, eu na maternidade dando a luz a um vampirinho, os médicos correndo desesperados, alguém dizendo que ele era a cara do pai!?!?! E o pior de tudo foi imaginar a continuação da saga “Crepúsculo”, numa versão abrasileirada. Aí, nesse momento, eu disse para mim mesma: “Tudo, menos isso. Outra sequência de vampiros brilhantes ninguém merece.”
Adelaide Paula
06/01/2012
Dia de Reis – Hora de desmontar a árvore de natal!
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 06/01/2012