Adelaide Paula
A Literatura é o traje mais sofisticado que alguém pode vestir.
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Saudade dos cavaleiros medievais...
      Era tão fácil definir um bom homem na Idade Média. Certamente ele seria um cavaleiro de capa e espada e carregaria nobres valores. Lutaria pela terra, pela fé, para proteger os que precisassem de sua coragem e força. Destemido, enfrentaria as agruras da vida de peito aberto, sem recuar, sem temer o confronto e a morte.
      Reunidos em torno da távola redonda, o que garantiria a isonomia entre eles, tratariam das questões do reino, elaborariam estratégias bélicas, e estabeleceriam o próximo cálice sagrado a ser alcançado. E, entre uma jornada e outra, ainda sobraria um tempinho para aplacar o apetite sexual das várias moçoilas do feudo. Eu disse “várias”.
      Evidentemente, depois dessa farra toda, era natural que se inventasse um graalzinho qualquer para sair de casa e passar meses vadiando por aí. Até porque naquela época não havia cigarro. Mas, cá prá nós, até as desculpas e canalhices dos cavaleiros medievais eram sofisticadas.
        Imagine você lá, naquele dossel (cama), sôfrega (fraca) de prazer, e de repente, seu bofe levanta num fôlego só, e diz com aquela voz gutural (voz de macho em filme antigo): “ _O Graaaaal, agora me lembrei do que eu tinha de fazer, antes de vir pra cá. Princesa, vou ali com os cavaleiros buscar o graal e volto logo!  E, antes que você processasse toda a semântica nas linhas e nas entrelinhas do enunciado verbal...ele já estaria pra lá do bosque. E olha que o bosque era longe!
        Depois de meses buscando o tal cálice, (engraçado, né? como eles conseguiam tapear “as patroa” com a mesma lorota de sempre) voltavam para casa, com aquelas armaduras enferrujadas, aqueles cabelões compridos, sujos, grudados, aquela barba por fazer, aquele hálito de quem engoliu um cabo de guarda-chuva, ou melhor, um guarda-chuva inteiro. Cabisbaixos, cansados, em cima daqueles cavalões lindos, arrastando aquelas espadas enooormes. E ao contrário de levarem uma chuva de caçarolas na cabeça, eram condecorados pelo rei. E de volta ao dossel começavam tudo outra vez.  
         No dia seguinte, lá ia a vassalagem (pobre sofre! E não é de hoje) pro tanque lavar aquele monte de roupa suja, lustrar aquelas armaduras, encerar as botas. Esfregar, esfregar e esfregar de novo aqueles cuecões  encardidos!                  
          Mas, a vida dos escravos não era só isso não. As mulheres ainda tinham entre suas obrigações, a aviltante missão de dar banho naqueles corpos primitivos: Lavar aquelas costas aprumadas, espumar aqueles peitoris de pombo, escovar aquelas pernas rijas e esfregar hooooras a fio, aquelas barriguinhas de tanque. Ai! Que difícil!!! E dizem os textos históricos infra-ocidentais, da cultura eurocêntrica-estadunidense, de gênero falo-patriarcal, que muitas ainda sofriam abusos daquelas mãos-bobas, enormes e precisas. Dizem até que foi daí que surgiu o termo “pegada forte” Ai, minhas costelas!
            E tudo ia muito bem, obrigada. Até que surgiu um tal de Cervantes( que devia ser raquítico, feio, flácido, careca e muito desengonçado) e lançou um novo padrão estético de cavaleiro medieval.  
            E D. Quixote, esse era o cara, encarnava o tal ideal de beleza que era uma mistura de Fabiano de Vidas Secas e Severino de Morte Vida Severina.
             E a partir daí ficou só a saudade: buá, buá, buá!

Texto registrado na Biblioteca Nacional, seção de Direitos Autorais
              

        

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 30/11/2011
Alterado em 30/11/2011
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