Dê-lhes água professor...
Como é gostoso aprender com o outro, libertar-se da solidão pedagógica que nos aprisiona e reduz. Como é bom poder encontrar a expressão exata para o que se deseja dizer na boca de alguém. Como é bom quando o universo conspira para a magia dos encontros e tudo se torna tão harmonicamente encaixado que quem está de fora, (ou melhor, por fora) chega a duvidar de nosso relato entusiasmado...
Porém, os que duvidam, certamente terceirizam a sua leitura de mundo, exercício tão necessário à sobrevivência do sujeito pós-moderno. Terceirizam o sentir construído na proximidade, na intimidade com o outro, que nos permite renovar os contratos pedagógicos e seguir em frente construindo e, se necessário, desconstruindo conceitos, comportamentos, valores que já não servem à pulsão dos desejos de nossa alma.
E é, na sala de aula, como gestor do processo de ensino-aprendizagem, que o professor pode, de fato, fazer a revolução na educação. É ele o “senhor dos anéis”, aquele que conduz os destinos de outros tantos que têm sementes a plantar, mas que temem não poder vê-las tornarem-se árvores fortes e viçosas, por conta de não possuírem água para regá-las no momento adequado.
Dê-lhes água professor...
Mas lembre-se de fazê-lo na medida certa, sabendo dosar as “funções maternas e paternas”, que não devem se confundir com o “ser mãe” ou “ser pai”, mas que correspondem à idéia de acolher as hipóteses dos alunos sobre os conteúdos que são apreendidos por ele – função materna – ou, provocar a ruptura com o que está ou deveria estar superado – função paterna.
Pensando nisso, alguns se adiantariam a contrapor essa afirmação, contra-argumentando que cada um tem o seu tempo de aprender. Nesse sentido, não há conflito, cada sujeito possui um processo que se completa em um tempo específico. Esse é o tempo que caracterizamos como “cafezinho pedagógico”, tempo que o educando possui para certificar-se da veracidade ou não de suas hipóteses. Ora, se por si só ele não avança na reelaboração de seus constructos acadêmicos, cabe ao professor dar aquele toque e o libertar da masmorra da ignorância.
No entanto, somente um trabalho sério, no sentido de aliar teoria e prática, pode transformar qualitativamente os resultados em sala de aula. E, na busca pela seriedade, descobrimos que temos que alterar inclusive a estética de nossa classe. Descobrimos que as tais fileiras, de lugares marcados, de sequência rosto-nuca não correspondem à idéia sóciointeracionista de que se aprende com o outro pela interação com esse outro. E, alterar as cadeiras de lugar, dissolver as turmas homogêneas, geralmente, cheias de “estudantes ruins”, “fora de faixa”, “indisciplinados”, aqueles que formam o perfil das turmas E,F,G,H, seja a nossa contribuição para uma estética com ética.
O resto, como diria uma amiga lá de Santa Catarina, é pedagogia de penteadeira. Adoro essa expressão!
Ou seja, é coisa para inglês ver, para enfeitar parede. Não passa de desperdício de papel, pincel e tinta. Não tem sentido de transcendência, não transforma realidades, não provoca reflexões, não nos deixa mexidos, inquietos, incomodados. E, queiramos ou não, o conhecimento significativo incomoda.
P.S.: Enquanto isso, no centro-oeste do Brasil, uma professora prepara o almoço, escreve um artigo, separa roupas para lavar e continua a sua terapia particular de ser mulher...
Texto registrado na Biblioteca Nacional, seção de Direitos Autorais
Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 30/11/2011
Alterado em 30/11/2011